terça-feira, 24 de agosto de 2010

O VIRADO E A VIRADA


O VIRADO E A VIRADA


O Virado à Paulista é um patrimônio dessa cidade.
Quem nunca comeu precisa conhecê-lo!


É daqueles pratos que arrasam o regime e enriquecem o cardiologista,
mas são uma delícia.

Arroz branco, lingüiça e/ou bisteca (fritas!), banana (frita!), couve refogada (com muito alho e azeite), feijão, ovo frito (!) e farinha.
Não se esqueça de uma boa pinga para acolchoar essa iguaria.

A origem do Virado à Paulista foi a mistura do feijão com farinha e toucinho que os Tropeiros utilizavam em suas longas viagens de desbravamento – mesma origem do Feijão Tropeiro. Partindo dessa base, criou-se o Virado à Paulista, patrimônio gastronômico-cultural de São Paulo servido às segundas-feiras em todos os lugares e para todos os bolsos; comê-lo, é, portanto, um ato de civismo paulistano e uma homenagem aos Bandeirantes a quem devemos nossa origem ancestral. Mas não era nada disso que eu deveria estar postando (acho que estou com fome...)

O assunto aqui é a VIRADA CULTURAL PAULISTA, que provavelmente inspirou seu nome nesse prato típico paulistano e tem se confirmado como um dos grandes eventos culturais de São Paulo. O evento só não é maior em números do que em controvérsias. São 24 horas de atrações por todo o Centro antigo de São Paulo que se irradia para outros bairros e cidades; as atrações vão de Sidney Magal à Orquestras Sinfônicas e o público é estimado na casa dos milhões.

Nesse ano, o Bola da Vez, esteve presente num dos muitos eventos que pegam carona na VIRADA. O que estive era modestíssimo, mas foi divertido.

Para quem não conhece São Paulo é importante que se diga que nós temos uma Rua da Praia – aqui, diga-se: pouco nos importa se do outro lado não há o oceano. Nossa Rua da Praia é uma travessa da Avenida Paulista que alguns insistem em chamar de Joaquim Eugênio de Lima.

Ali, na Rua da Praia há uma “Banca da Prainha” que além de jornais e revistas diversas comercializa livros de autores paulistanos e pouco conhecidos - meu caso.

A história de como fui parar lá é tão rocambolesca quanto haver uma Rua da Praia em São Paulo. Lilian Rose, amiga muito querida, ficou sabendo que um amigo dela estaria por lá – a convite do dono da banca – para vender seu livro e achou que também haveria espaço para mim e o Bola da Vez.

Certamente Lilian pensou num encontro de geração. Fernando Rangel tem quase a minha idade e o seu livro Jolly’s 1984 tem um certo diálogo temporal com o Bola da Vez – para quem não se lembra, Jolly’s era um bar que ficava naquele restinho de Paulista que sobra depois da Consolação. Aquele lugar fervia nos anos 80 e é bem possível que o Faustino tenha passado por lá quando ainda era chamado de Tino e começava o namoro com Sônia. Para variar do Bixiga...

O alto da Consolação era uma passagem natural para antes ou depois do Bixiga; ou para um “ao invés de”, posto que Riviera, Café Europa, Livraria Belas Artes, Mucheluccio, Cine Belas Artes, Baguette e outros que a memória me furta garantiam encontros, papos, cerveja barata e diversão até o amanhecer. O livro de Fernando Rangel é também um policial e está bastante focado no contexto político de 1984 e nos tipos que freqüentavam o Jolly’s. No Bola da Vez, como se sabe, os anos 80 são as lembranças de Faustino de um Bixiga que já não existe em 94 quando a ação do livro realmente acontece. Lilian juntou os autores, programou o encontro, divulgou para os amigos, jurou que iria e não apareceu – eu fui.

Vendi alguns livros, recebi a visita de alguns amigos e participei de um evento VIRADA-B ou VIRADA-OFF que casa bem com o meu jeitão. Ali descobri que já conhecia o Fernando de outras passagens (Artes Cênicas – ECA/USP lá pelos fatídicos 80) e que ele é pai da filha de uma artista da dança minha conhecida e que eu sequer sabia que tinha uma filha... valeu o (re)encontro.

Durante todo o evento tive a companhia de uma outra amiga muito querida, Elaine Grecco, que ficou em pé, firme e comigo mesmo durante a apresentação do mais legítimo rock-garagem paulistano que animava o local. Com Elaine, descobrimos que já não temos nem as mesmas pernas nem os mesmos ouvidos de antes e que passaríamos ao largo das outras 20 horas de VIRADA. As filhas dela estavam em algum lugar da cidade curtindo algum show, diante de algum palco entre a Estação da Luz e o Largo do Arouche no meio de um milhão de pessoas – a ela cabia voltar para casa e preocupar-se, papel que herdou daquele que impusemos às nossas mães lá pelos tais “anos 80”.

Voltei para casa pensando que as filhas da Elaine estavam marcando e sendo marcadas por algum lugar dessa cidade, que estavam na sua aventura pelas noites de São Paulo e que talvez um dia se refiram a essas noites como “lá pelos anos 10”. É fato, o mar não banha a Joaquim Eugênio de Lima e não há areia no vento que corta a Avenida Paulista. Nosso oceano é a noite.

RECEITA DE VIRADO À PAULISTA – receita muito boa mesmo, mas manda acompanhar com um certo vinho... provavelmente deve funcionar ou “harmonizar” como prefere o chef que nos apresenta a receita; mas e a pinga trazida lá de Minas pelos tropeiros, como fica?


SOBRE O LIVRO DO FERNANDO - Jolly"s 1984