quarta-feira, 7 de outubro de 2009

As Formas do Belo


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AS FORMAS
DO BELO
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Sim amigos,
reconheço,
a foto ao lado
quer dizer
rigorosamente nada.
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Os que ainda têm vista boa – será que conheço alguém que ainda não use óculos? Vamos assim mesmo - os que têm vista boa, vão reconhecer um Salão de Beleza. Sim, ali se faz coisas como Alisamento, Escova Acetinada e Progressiva, pinta-se as unhas e se faz depilação.
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Os que têm boa memória – e não vou questionar a memória de ninguém da minha idade – talvez consigam reconhecer o local se estiveram ali há 25 anos. Claro que não foram ali para fazer escovas, chapinhas ou pintar as unhas dos pés. Esse cubículo era um bar.
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Fica na rua Santo Antônio, perto da esquina com a Treze de Maio, está engastado atrás do antigo Café Society – aquele que ocupava toda a esquina em bico com suas paredes de tijolos aparentes e hoje é o Espaço de Samba Almir Guinetto, com as paredes rebocadas e amarelas.
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Freqüentei esse local minúsculo por uns dois ou mais anos. Ali, podia me enriquecer de gente num bar barato, conhecia as mais diversas pessoas e ainda hoje convivo com algumas delas - a maioria de óculos e com a memória variando.
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A dona do local chamava-se Sônia – uma simpatia – e seu marido, Nelson, era sambista, santista e maître de uma lugar chamado Don QuiChope – nome horrível – que ficava na Treze de Maio - às vezes ele fugia do trabalho para estar com as pessoas que freqüentavam o bar.
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Ali nos reuníamos, conversávamos a noite inteira e tomávamos Danda, uma pinga curtida em raízes sabe deus do quê, e que certamente hoje meu fígado se recusaria a encarar - sobre os fígados dos que freqüentavam esse bar comigo, também é preferível calar.
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Para os que não têm memórias desse local, ou de qualquer outro no Bixiga, terão alguma idéia do que ele foi, lendo o conto PERSONA, que ao lado de AUGUSTA, é o mais memorialista dos contos do livro, único ponto real de contato entre mim e Faustino. O resto é tudo mentira.
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Ao voltar para o Bixiga, para escrever o Bola da Vez, fiz diversas incursões fotográficas em longas caminhadas diurnas. As fotos são as que ilustram as postagens. Não é preciso explicar o pasmo e o inusitado de encontrar o “meu” bar realizando depilações, alisamentos, escovas progressivas e acetinadas.
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O pasmo maior veio na Festa da Achiropita. Claro que eu fui. Comi, me diverti, enfrentei fila, levei a Anna no carrossel e etc. Saímos da Festa e fomos ao Amico Gianotti relembrar as fogazzas. Gostosas e demoradas como sempre. Estando ali, não resisti. Deixei Isabel, Anna e amigos no Gianotti e fui a uma excursão noturna na área. E não é que o Salão estava aberto!
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Sim, escovas, chapinhas, unhas, pernas inteiras, meias pernas e virilhas à meia noite!
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Óbvio que a Livraria do Bixiga, o Cine Clube, o Carbono 14, o Café Society, o Persona, o Café do Bixiga, o Lua Nova e até o Don Quichope
– com seu nome bizarro – já não existem.
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Mas e o “meu” bar? Está lá! Resistindo.
Distribuindo até alta madrugada uma outra forma de beleza, diferente daquela que eu encontrava ali, naquele cubículo, convivendo com pessoas que jamais esqueci.
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