sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Retorno da Pescaria
Quando se lança uma garrafa ao mar, colaca-se um pedido,
um mapa e completa-se
até a boca com esperança.
Pedir leituras, para mim, foi isso.
Lendo biografias e artigos sobre os processos de criação de grandes autores não é incomum a referência aos seus leitores de antes das publicações. Não raro, aliás, que esses leitores sejam outros autores e até grandes também.
Optei por outro caminho, a garrafa ao mar. Muitas garrafas, milhares delas, polui o oceano das caixas de e-mails com meu pedido. Queria e precisava ter muitas visões de muitas pessoas diferentes.
Chegaram os botes salva-vidas de contadores e biólogos, de psicólogas e bailarinas, de professoras e cineastas, de donas de casa e tecnólogos, de agrônomos e pedagogas, de gente que sequer imagino como vivem e de gente que mora comigo.
Devolvi os botes com um conto dentro.
Um conto endereçado àquela pessoa que veio em meu socorro, que respondeu à minha garrafa lançada. Algumas dessas pessoas conheço bem, outras menos e outras nada. Assim, os contos tornaram-se cartas. Cartas sobre mim, o que escrevo e o que penso.
Cartas contando minhas histórias, contendo minhas memórias, propondo olhares sobre nossa História, partilhando idéias e esperando respostas.
Tornados cartas, os contos, ainda meus - não públicos/publicados - tornaram-se conversas pessoais entre mim e o leitor. Como se o conto fosse escrito para ele - o leitor primeiro - e tornando-se nosso, desse seu primeiro passo para nos abandonar.
As respostas chegaram. Simples, analíticas, generosas, dialógicas, complexas, propositivas, inagadoras. Todas trazendo histórias, novas histórias que se desdobraram em novas cartas e histórias. Diálogo franco e generoso, como devem ser as despedidas, pois os contos serão de todos. Públicos, publicados.
Impossível saldar o tamanho da dívida de gratidão que contrai com os que responderam às garrafas. O único caminho é fazer como as crianças bem pequenas, acreditar que a divisão aumenta a quantidade e dividir aqui, com quantos lerem, um pouco dessa troca de histórias na tentativa de tornando público avisar a todos: ainda há quem mande um bote salva-vidas quando recebe garrafas.
É isso, nas próximas postagens, essas histórias.