quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Que país é este?


Há muitas experiências registradas - e bem registradas - sobre o escrever livros, houve até uma febre de pós-escritos em algum lugar nos anos 90. No meu caso não há nenhuma hipótese disso acontecer, nem pressinto uma continuidade ou sobrevida nos romances, mas tem sido uma experiência muito rica que vale o registro que compartilho por aqui.

Para mim, tudo começa com uma visão de Canaã. Sem ter visto Canaã em sonho, não penso poemas, espetáculos de dança, artigos e muito menos contos ou romances. Preciso vê-lo pronto, ter uma visão, mesmo difusa e imprecisa - pois em sonho - de como vai ficar quando pronto e em linhas gerais de como vai atingir as pessoas.
Só funciono assim.

Não nego até uma certa inveja dos amigos da dança que entram no estúdio e mergulham em experimentações, improvisações e pesquisas corporais - podendo passar até semanas nesse processo - até que cheguem a uns inícios e princípios que talvez se desenvolvam num trabalho finalizado - ainda que nenhum deles goste de dizer finalizado, preferindo, o "em processo", mesmo quando esgotam os prazos dos editais e precisam apresentá-los. Respeito-os, sei que trabalham seriamente dessa forma.

Mas não é nada fácil ficar orando dias e noites à espera da visão de Canaã. Certamente é pior para quem está por perto que tem de aguentar silêncios, resmungos e insônias - pobre Isabel - ou para os bailarinos da cia de dança, que muitas vezes têm como resposta sobre o próximo trabalho um humilhado "calma, ainda não consigo ver". Para piorar, uma vez Canaã vista em sonho, há que se atravessar o deserto e construir-lhe as paredes. No caso da dança, há a Isabel, guia e edificadora excepcional - e que gera dois ou três trabalhos excelentes sem mim entre uma visão e outra - divina providência.

Nos romances, o deserto é feito de palavras. A trilha escolhida pode não conter oásis e o universo da pesquisa que se faz é do tamanho do Mar Vermelho. Livros, jornais antigos e Google são anjos, mas falam a língua dos profetas: obscura e metafórica.
Lê-se e encontra-se de tudo. Mas o que faz sentido contar e como aquilo faz sentido com o que se quer contar? Muitas vezes a resposta vem depois de quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão ou beber água, sozinho, no alto do Monte Sinai.

A pesquisa do Bola da Vez me levou a lugares da História do Brasil que superam em muito a minha imaginação ou qualquer "poder ficcional". Encontrei entrevistas e biografias que se colocadas num romance serão lidas como ficção e excesso de imaginação. Algumas compartilhei com amigos em conversas soltas - olharam-me incrédulos. Por isso, para não passar por mentiroso, e pela vontade de compartilhar o sentimento desses encontros, vale indicar algumas leituras que encontrei na internet. Bem vindos ao nosso país:


Para rir. Histórias sobre o Brasil na Segunda Guerra não faltam, mas vale saber mais algumas. A entrevista da Major Elza, uma das 73 enfermeiras que lá esteve é uma riqueza sobre a época e as cabeças que aqui viviam e governavam. O detalhe sobre Dona Santinha é insuperável e um outro vale comentar aqui: foram 73 enfermeiras para 25 mil soldados embarcados, façam as contas e divirtam-se com a entrevista http://www.anvfeb.com.br/enf_major_elza.htm


Para chorar. Essa é para quem tem estômago forte. A entrevista de um torturador - que está livre, claro - é um soco na cara. Interessante é pensarmos que o Exército que vemos pela entrevista da Major Elza toma o Governo no Brasil apenas vinte anos depois. Só podia dar no que deu, e a entrevista desse ex-Tenente é só um detalhe http://veja.abril.com.br/091298/p_044.html


Para rir, chorar e ter esperança. Ainda Brasil e Exército. Uma maravilha de estudo sobre como o Samba leu a Segunda Guerra. Sim, amigos, acreditem, o Samba - eterna crônica popular - tratou a Segunda Guerra entre seus temas. Os sambas surgiam aqui e lá (!?). Pois é gente, os nossos soldados levaram seus instrumentos e volta e meia rolava uma rodinha com um pandeiro enquanto caía neve e morteiros do céu. Que povo é esse que vai para a guerra nas condições em que foi o nosso Exército e é capaz de discutir o assunto por meio da música popular? Esquentem os tamborins e divirtam-se



É isso.