quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Retornos 2



Aqui retorno de
FAUSTINO, XAVIER,
DIVANILDE
e PAULO




Faustino
por Daniel Brazil
Legal, mantém o pique de policial brasileiro. Continuo implicado com as próclises, mas é idiossincrasia minha. Um parágrafo me pareceu (e não pareceu-me) meio confuso, lá na última página. A frase " Foi ao quarto de Deolinda e achou seus documentos numa bolsa de trinta anos atrás.", do jeito que está colocada, deixa dúvidas sobre quem é o sujeito, Diva ou Faustino. Interrompi a leitura, que vinha num fluxo único, e me pus a reler o trecho, sem entender. O resto está bem bom!

Xavier
por Marcelo Brazil
Acabei de ler o seu conto, certamente lerei de novo, te passo aqui as minhas primeiras impressões. Antes de iniciar a leitura, fiz uma regressão às nossas noites de Bixiga, nossos papos, aquele ambiente fervilhante da noite paulistana. Bons e divertidos tempos! Mas para minha surpresa o conto se passa em Osasco!! Tudo bem, esse conto é apenas um momento da vida de alguma personagem que deve estar envolvida na trama policial de 1994... Ponto pra você: agora fiquei muito curioso para ler o livro inteiro! Mas, como você mesmo disse, o conto tem uma vida independente e isso funciona muito bem. Esse bar cheio na hora do almoço com uma casa na parte de trás é, para mim, muito familiar. No Nordeste todo boteco é assim e mesmo aqui em São Paulo sou um freqüentador assíduo de botecos na hora do almoço. O ambiente do bar foi muito bem descrito por você, a escrita é mais agitada no início, até repetitiva na descrição dos pés, tamancos, etc... Mas faz um contraponto perfeito com a calma da conversa do menino com o homem na segunda parte do conto. Hoje, com as malditas televisões ligadas em qualquer lugar que se entre para almoçar, diria que os ambientes se tornaram até mais irritantes e repetitivos... O resto do conto flui bem, tranqüilo... bem escrito. Me envolvi com a história, um interessante jogo entre poder, traições, o mal patrão, obediência... já fui Faustino um dia!!

Divanilde
por Cristina Pires
Este conto está uma beleza. Além de contar a história da Devanilde, traz consigo várias histórias do Brasil. Uma linguagem clara, gostosa de ler. A descrição inicial num primeiro olhar me pareceu longa demais. Porém, ao dar continuidade à história, percebi que só poderia estar naquele clima do texto, graças às descrições iniciais.

por Marcos Moraes
Li Divalnilde e gostei muito. Fiquei com vontade que seguisse, que Dona Diva (que eu não lembro de ter conhecido) se aproximasse dos meus dias de Bixiga... pensei muito naquilo que conversamos brevemente, sobre esta cidade e a relação que se tem com ela.
Eu tenho dois tipos de memórias de São Paulo (ativadas pelo conto):
O primeiro vem por herança, pelos relatos de minha mãe e familiares, de um tempo que não existe, da vida da sociedade nos Campos Elíseos, os casarões de lá, "vovó isso, vovô aquilo" (a avó dos meus pais)... a imaginação daquilo que seria o passado, a quebra da bolsa, a revolução de 30, depois a infância de minha mãe, a 2ª guerra, até os 50.
A outra memória é a minha. Infância e adolescência, antes que eu saísse pelaí... é o inverno cinza e frio, o fog ("inversão térmica", se dizia) e a melancolia, na infância, e a reinvenção (marginal) da adolescência, fazendo teatro, contra cultura, procurando "ser diferente", combatendo a ditadura, cineclube do Bexiga, Cortázar e Jazz, passeando num centro então "coisa de putas, mendigos e bêbados", coisa que eu nem contaria em casa, na família "de bem". Estudar e sofrer com a inadaptabilidade crônica e habitar o mundo interno, secreto e às vezes mofado, o silêncio, a humilhação do medo, que era descontado na noite paulistana, marginal e então "livre", no risco e nas maldições... a vida dupla que eu mantinha enquanto possível, enquanto os desastres não iam se acumulando e obrigando a refazer tudo de novo, começar de outro lugar, acreditar em outras saídas, inclusive o aeroporto...

Paulo
por Alexandre Mafra
Caríssimo: o texto é delicioso. Só hoje eu consegui tempo e paz de espírito para poder, de fato, degustar o capítulo. E, sem bichice, muito bom mesmo! Adoro as imagens: a arma como obturação, a prostituta estrompada (anos que não lia esta palavra), o passeio pelo inferno no Passatão que virou personagem. Deu uma puta vontade de ler o resto.
Muitíssimo obrigado pela degustação. O livro tá com tudo!

por Vera Kaiser
Continuo admirando esse seu estilo franco e incisivo que prende a atenção, incita a imaginação e convida à releitura de uma realidade supostamente conhecida.Esse novo texto que você mandou, “Paulo”, já entra mais no desumano da historia, no lado homem robotizado, sem sentimentos, vazio e “automático”. Podemos quase visualizar seu passado não tão remoto, homem frustrado, torturado, e talvez por isso mesmo torturante, e que "aproveita" até do embaçamento do espelho para não ter que nele se olhar (e se ver)... pois seu próprio corpo parece refletir seu estado moral; é o que se pode verdadeiramente chamar de miséria humana, não é a miséria social ou econômica, é moral! Ficamos constantemente divididos entre sentimentos contraditórios de piedade e revolta em relação ao personagem. Mas, como nos textos anteriores, ele é mais um esquecido do sistema de um mundo desumano e contraditório , mas no seu caso, paradoxalmente, esquecido pelo próprio sistema que supostamente ainda tem que defender... A cada instante se teme, se pressente que o pior pode acontecer. O texto nos mantém em suspense, é bem intrigante.Temos aqui também um texto envolvente, crítico, que vislumbrando detalhes sórdidos da realidade da boca do lixo, evidencia vidas e convulsões finalmente da outra História contemporânea, aquela que não é contada!