Pouca gente se pergunta o que faz uma Santa de nome grego abençoando um bairro operário nos trópicos. Mas quem escreve precisa se perguntar essas coisas.
Tudo começa com um certo Capitão Maurício navegando no ano de 580 em águas mediterrâneas. Desviado por correntes marítimas, ele aportou numa pequena aldeia calabresa.
Ali havia uma comunidade eremita guiada pelo monge Éfrem - nobre que abandonou a riqueza material para dedicar-se a Deus. O monge foi ao encontro do capitão e lhe profetizou em grego, pois ali se falava grego e não latim ou um romanço qualquer: "Não foram os ventos que te conduziram para cá, mas a Mãe de Deus, para que tu lhe construas um templo neste local".
Dois anos depois, Maurício assumiu o trono de Bizâncio. O Império Romano do Oriente que sobreviveu à queda do Ocidente, lembra? Pois é, some vinte e poucos anos a esse encontro e o latim será abandonado como língua oficial do império e trocado pelo grego. Aliás, o legado grego que sumiu na Idade Média do Ocidente foi preservado no Império Bizantino cuja queda motivou em parte o Renascimento.
Mas volte 10 anos daqueles que você somou ao encontro. Em 590, o monge Éfrem foi à Constantinopla, capital do Império e pediu ajuda ao monarca Maurício para construir uma capela dedicada à Maria, na gruta onde vivia no alto do monte Rossano Calabro.
O imperador não só ordenou que fosse erguida depressa, como enviou um dos melhores artistas da corte para pintar o ícone da Virgem. Mas, diz a tradição, ele não conseguia sequer fazer o esboço, porque tudo o que fazia de dia, desaparecia à noite. Aflitos com a situação, o povo colocou um vigia noturno, para ninguém entrar na capela.
Logo ao anoitecer apareceu uma bela senhora carregando uma criança e pediu ao vigia para rezar na capela. Como ela demorasse a sair, ele entrou e não encontrou ninguém, mas, iluminando melhor o interior, viu pintado numa das colunas um lindo ícone de Nossa Senhora segurando o Menino Jesus nos braços.
Assustado correu ao encontro do monge Éfrem gritando "a - chiro - pita!", expressão grega que significa: "não pintada pela mão humana". Deu-se um milagre, uma aparição.
1358 anos depois, a paróquia de São José – santo que ainda ocupa a torre mais alta da igreja - no bairro da Bela Vista em São Paulo constrói/reforma sua igreja com a ajuda dos enriquecidos migrantes italianos – calabreses ainda fiéis a esse culto mariano. E assim, em 1948 surge então a Igreja de Nossa Senhora da Achiropita no Bixiga.
Mas o que tudo isso tem a ver com livro Bola da Vez e a estrutura que escolhi para ele?
Tudo, absolutamente tudo. Mas eu explico na próxima postagem.