sexta-feira, 12 de março de 2010

Entrevista FOLHA DE SÃO PAULO - sem cortes





Olá amigos. Bela foto essa aí ao lado, não? Infelizmente não é minha, tampouco localizei seu autor. Mas ela ilustra bem uma certa idéia que tenho: para entender o Bixiga, comece imaginando-o sem os carros! - esse não foi o ponto de partida do livro, mas esteve no contexto da entrevista que dei a Guilherme Solari da Folha de São Paulo - Redator Folha Online.

Começamos a entrevista antes do lançamento do Bola da Vez e só terminamos por agora. Ela está postada no site da Folha, mas é claro, teve de ser cortada e reduzida ( ver Folha Online ).

Aqui, não temos limitação de espaço, somente a paciência dos amigos - conto com a sua - então aí vai a íntegra da entrevista.
Antes, impossível não agradecer ao Guilherme pelo interesse e pelo esforço em publicar a entrevista.

Guilherme/ FOLHA - De onde veio a ideia de criar um romance policial ambientado no bixiga?

Fábio - Vou dividir sua pergunta em duas partes, o Bixiga e o Policial.

O Bixiga é um lugar especial dentro de São Paulo, não que outros bairros não tenham elementos interessantes ou até parecidos, mas juntos, só o Bixiga. Começa por não ser um bairro reconhecido pela administração pública, ele é não oficial, "O Bixiga é um estado de espírito" dizia Armando Pusigli, o Armandinho, o maior divulgador do Bixiga que faleceu no ano de 94 – ano em que se passa o livro.

A história do Bixiga se confunde com a História de São Paulo e do Brasil. Foi Quilombo, entreposto de expedições, chácara, vila, bairro nobre com o café, vila de imigrantes, bairro operário, bairro popular, local boêmio, “exílio” democrático durante a ditadura e atualmente dialoga com a insurgência das periferias. Essas histórias ainda estão naquelas ruas e naquelas pessoas.

Até a absurda destruição que o Bixiga sofreu e ainda sofre com o apagamento de sua arquitetura e patrimônio urbanístico, é testemunha de um tempo. Testemunha de um crime e de um tempo triste, mas testemunhna fiel. Se tentarmos arriscar algum contono, alguma permanência ao longo dessa rica história eu arriscaria o sentimento unidade motivada pela exclusão, a sensação de estar à parte motivando a particularidade e não uma busca inútil de inclusão nos sitemas excludentes. Essa é uma reação coletiva muito especial está impregnada no Bixiga. As exclusões por etnia, classe, opção política, formas de cultura e acesso ao consumo não fizeram do Bixiga uma cópia canhestra e despersonalizada das formas dominantes – como aconteceu em muitos bairros de São Paulo – pelo contrário, levou-o a uma cultura própria. Isso sempre me interessou profundamente.

O romance policial constituído de contos independentes aconteceu por dois motivos bem simples. A estrutura de um romance policial é muito clara e segura: crime – investigação – descoberta – punição. Para quem está estreando no romance uma linha segura ajuda bastante. Claro que eu subverti bastante essa estrutura e busquei atenuar muito de sua previsibilidade – a opção pelos contos independentes e o impacto disso sobre a linha do tempo e sobre os ambientes em que acontece a narrativa mestra, além do meu pouco interesse em tratar de um “herói justiceiro convencional” fizeram com que o Bola da Vez derivasse bastante do gênero policial. A linha mestra está lá, mas talvez seja a coisa menos interessante no livro.

Levar essa estrutura ao Bixiga permitiu-me olhar um lugar tão especial sobre muitos aspectos e criar personagens de muitos estratos e histórias que só poderiam acontecer ali justamente pelo Bixiga viver desde sempre como um “estado à parte”, um estado de espírito.


Guilherme/FOLHA - Quanto tempo levou o processo de criação?

Fábio - O primeiro conto - João - e a idéia do mosaico de contos já estavam comigo há bastante tempo. Pode-se dizer que foram contemporâneos da ação do livro, ali pelo início da década de 90. Cheguei a criar mais alguns contos e construir algumas linhas de conexão entre eles. Mas o impulso definitivo veio mesmo com a aprovação do projeto pelo ProAC da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo no final de 2008 – daí, foram sete meses de trabalho diário no livro.

E aqui eu preciso aproveitar para reafirmar a importância desses editais, que não são exatamente um concurso de obras prontas, mas uma avaliação de diversos projetos que redundam numa escolha ampla revelando um retrato da produção daquele momento. Com a regularidade dos editais e a obrigatoriedade de apresentar um projeto mais amplo que a obra pura e simples entendo que se cria um amadurecimento benéfico a todos: escritores, editoras, Secretaria e público.


Guilherme/FOLHA - Como você integrou a história e a geografia do bairro na história?

Fábio - Esse não foi um processo fácil até pelas escolhas iniciais – gênero policial, contos curtos e independentes. Dominar essa estrutura e ao mesmo tempo fazê-la dialogar com a pesquisa foi o mais complicado. A primeira saída foi encontrar personagens que estivessem ligados a movimentos históricos do Bixiga ( futebol de várzea, jogo do bicho, casarão decadente, boemia cultural do anos 80, gente ligada à Igreja e aos projetos sociais ), ao mesmo tempo, queria evitar um olhar esteriotipado e ingênuo sobre as gentes do bairro, evitei convocar para o primeiro plano aqueles “italianos e sambistas” de novela. Tanto as gritarias com seus sotaques e os batuques com seus requebros estavam fora desde o início, não me interessava o olhar superficial das produções televisivas. Tentei, dentro das limitações iniciais de que já falei, expolorar personagens com outras ligações com o Bixiga, mais palpáveis e construídas pela sua própria composição enquanto personagem e não a partir de uma ótica ingênua e superficial – nasceu no Bixiga fala “maquê, belo” ou é um negro acariocado e exilado na Vai-Vai, isso não me interessa.

A geografia do Bixiga me ofereceu muitos cenários para cenas importantes que só poderiam acontecer ali, mas isso talvez não seja o mais importante nesse aspecto. Há uma constante que caracteriza algumas personagens que é justamente o incômodo pela destruição de uma geografia afetiva. O Bixiga foi se tornando um bairro recortado de vias expressas, elevados e avenidas – aquele estúpido processo de destruição que se chamou de prograsso nos tempos da ditadura e que perdura até hoje. Muitas personagens são as que ficaram ilhadas por ali, que se perderam no seu próprio lugar tomado de mãos, contra-mãos, avenidas e elevados, ficaram por ali, vivendo à parte de uma cidade que se devora. Esse papel da geografia afetiva em contraponto à destruição urbana caracteriza o sentimento de muitas personagens e é uma das chaves do livro.


Guilherme/FOLHA - Como foi o seu processo de pesquisa "em campo"? Você visitou o bairro, conversou com moradores...

Fábio - Essa talvez tenha sido a maior diversão do processo de escrita do Bola da Vez. Por diversas vezes armei-me de uma pequena máquina digital e de um bloco de notas e rumei para o Bixiga sem um roteiro pré-determinado, minha única regra que chegar no Bixiga usando sempre uma das "mil entradas" diferentes ( Augusta, Consolação, Brigadeiro, Nove de Julho, Maria Paula, Major Quedinho... ). Essa regra era a mais divertida, pois me obrigava a pensar "será que aqui já é o Bixiga? Onde começa de fato? Onde termina?". Talvez o Armandinho tivesse razão, não é efetivamente um bairro, é afetivamente um bairro.

Estando no Bixiga iniciava a "pesquisa de campo", entrava nos bares para um café, nos Bancos para sacar na fila do caixa, nos antiquários procurando relíquias, nos pequenos comércios para canetas, blocos e pilhas, nas padarias para lanche e descanso. Nesses lugares sempre puxava uma conversa com quem estivesse por perto e "a fim de prosear". Futebol, clima, trânsito, tamanho da fila, preço das coisas, qualidade dos móveis antigos, malhar os políticos foram as minhas melhores iscas. Depois de mordidas, eu ia derivando a conversa para que a pessoa falasse do Bixiga. Uma delícia. No bazar da Achiropita, em cada banca, cada uma daquelas senhoras, vendendo ou comprando é uma "enciclopédia" sobre o bairro. Engraçado foi encontrar ali uma Dª Alice, mesmo nome da minha personagem e que estava trabalhando nas Obras Sociais desde o início dos anos 80, foi uma coincidência incrível e uma conversa ótima. Outra coincidência interessantíssima aconteceu com o livro já escrito, quando estava organizando o lançamento que aconteceu no coreto da Praça Don Orione - num domingo durante a feira. Entrei num bar e desandei a conversar com um sujeito sobre futebol, de repente, por vício da pesquisa, falei sobre o Boca Junior do Bixiga e sobre a antiga várzea, pois não é que o sujeito havia jogado no Boca, conhecia o Aristocratas - já como time de futebol de salão - e quando saiu do bar, percebi que ele mancava um pouco, como o Givair do meu livro.

O que pude colher em muitas dessas conversas foi essa relação afetiva que os moradores mais antigos têm com o bairro e o quanto se incomodam com o desmembramento geográfico de suas memórias. Essa sensação invadiu a composição das personagens mais ligadas ao bairro.

Muito desse material de alguma forma está postado no blog ( http://livro-bola-da-vez.blogspot.com ), assim como as fotos que nasceram nesses passeios.


Guilherme/FOLHA - Percebe-se que houve uma pesquisa histórica por trás da criação da obra. Revelando a criminalização do jogo do bicho, a entrada das drogas, o golpe de 64, greves, a mudança da geografia do bairro com viadutos que o cortaram em pedaços. Que fontes você utilizou para a pesquisa?

Fábio - A primeira e mais fiel das fontes foi a minha história no Bixiga. Ali eu vivi minha adolescência, lá nos anos 80. De certa forma, este é o único traço "autobiográfico" do livro. O Faustino, o delegado que investiga o crime no cortiço, divide comigo essa marca biográfica, curtimos muito o Bixiga dos anos 80 e toda aquela efervescência cultural - mas o Faustino é um pouco mais velho do que eu. Essa foi a primeira fonte, as minhas vivências e percepções de tudo que vi acontecer ao bairro e as transformações que a vida boêmia de lá sofreu já na metade dos anos 90. Vale ressaltar que hoje o Bixiga já é uma terceira coisa, muito diferente e interessante, afinal é o Bixiga, mas não é nem o que vivi nem o que vi depois.

Dentre as fontes mais convencionais, um livro é sempre feito de outros livros, acho que vale destacar além dos tradicionais livros de História do Brasil e de São Paulo, três biografias que me ajudaram muito a entender momentos que antecedem muito ao meu nascimento, as biografias de dois jogadores de futebol, Leônidas da Silva e de Canhoteiro, e a de um compositor, Adoniran Barbosa. As escolhas por essas biografias deveu-se também pela riqueza que significam em relação à contextualização histórica dos biografados.

Além dessas fontes, há a internet. É assustador o que já existe de informação digitalizada e disponível. Acho que hoje ninguém pode pensar em pesquisar um assunto sem ao menos fazer um levantamento prévio na rede. Encontrei excelentes trabalhos acadêmicos sobre o papel do Rádio na Copa de 1938, sobre o Jogo do Bicho, sobre os Bondes em São Paulo e etc. Claro que existe muito material descartável, pouco confiável, ou que apenas diluem fontes mais completas, mas isso, qualquer um que já se aventurou na Internet já aprendeu. É preciso paciência, disponibilidade de tempo, segurança no rumo escolhido, comparar e checar dados e fontes - como em outras fontes de pesquisas não digitais.

Por outro lado, na internet encontrei um tipo de material que foi fundamental para mim, e de certa forma para o livro. Uma fonte que só a internet permite: os relatos pessoais de anônimos, as memórias de cotidianos vividos em outras épocas, o vasto material de preservadores anônimos das memórias coletivas - blogs de bairros, de bondes, de sambas antigos, de policiais, de famílias, de ruas, de pesquisadores amadores, de turmas de colégio etc - esse material não acadêmico por excelência, não disponível em livro está todo disponível na internet e foi fundamental para construir as memórias fictícias a partir das memórias reais. Claro que a precisão de informações históricas precisam ser checadas em fontes seguras, mas o que dá sabor, o que tempera e traz interesse a um dado histórico é a memória de quem viveu aquele momento. Felizmente a internet está permitindo que esse material encontre um local de troca e partilha.

Boa parte do que encontrei de mais interessante na internet também está disponível em algumas postagens do blog com os devidos links - houve um momento em que temi que o blog e a pesquisa do livro me tomassem mais tempo e interessassem mais o leitor que o próprio livro ( risos ). Mas o fato é que são bem complementares, visitar o blog é uma visita à oficina, aos bastidores do livro - e eu acredito em oficinas limpas e arrumadas e em bastidores aconchegantes.


Guilherme/FOLHA - O assassinato de João gera um “mosaico” de contos que irradia mostrando a vida dos personagens relacionados direta ou indiretamente com o acontecimento. Por que a escolha desse formato?

Fábio - Uma resposta simples seria dizer que é assim que as histórias são: mosaicos, mandalas, estruturas radiais com centros mutantes. É o nosso vício e acomodação tanto de escritores quanto de leitores que nos faz pensar ao contrário. Estranhas mesmo são as histórias lineares.

Mas não é só isso. Um aspecto importante a lembrar é que eu não tinha nem interesse nem história para contar no modelo tradicional dos policiais (linearidade de tempo, constante de ambiente, centralidade de uma personagem e desfecho da trama), eu não tinha nada disso e nem grande interesse em ter – quem morre, porque morre, quem mata, porque e como mata já está dito no primeiro conto, todo mundo já sabe, até a Polícia! Assim, o crime e a investigação tornam-se apenas pretextos para o mergulho no universo das personagens, dos tempos e dos ambientes, esse era o meu foco de interesse. Para esse interesse, somente a estrutura em mosaico poderia funcionar. Além disso, libertar-me de uma estrutura linear, permitiu-me variar lugares, pessoas, tempos e vozes narrativas para explorar.


Ghilherme/FOLHA - Porque há um limite de cinco páginas em cada conto? (tem relação com déficit de atenção no mundo moderno, ou é para ser lido durante as viagens de metrô, ônibus, ou não)

Fábio - Tem a ver sim com o deficit de atenção no mundo contemporâneo e o desejo de ser uma leitura fácil podendo acontecer até no metrô. Mas há outros motivos até maiores. Eu venho da poesia, minha origem são os poemas, tanto na leitura quanto na produção. Projeto formal, economia e exploração máxima de cada palavra ( sentidos, tamanho, forma, conexões ) é uma realidade incortornável vivida pelo poeta a cada poema. Entrar no mundo da prosa foi como sair do Salão para jogar futebol de campo; muda a bola, o piso, o número de companheiros, o fôlego necessário, a força do chute, a distância do passe, o tamanho do gol e da torcida, o risco de se perder é grande. Entendi que colocando-me um limite muito preciso eu teria uma sobrevivência mais garantida – o que caracteriza um rio não é a água, são as margens.

Cinco páginas foram suficientes para contar as histórias que eu queria contar, o número nasceu dos primeiros contos ainda nos anos 90. Quando escrevi o projeto para SEC-SP já anunciei as exatas cinco páginas “nem uma linha a mais nem a menos”. Nessa primeira edição do Bola da Vez, minhas cinco páginas word, espaço duplo, corpo 12, se transformaram em 6 páginas, mas é porque pintaram umas ilustrações propostas pelo editor e eu não resisti à idéia dele.


Guilherme/FOLHA - Como funciona essa interação entre a solidão do escritor para desenvolver sua obra e a interação com os leitores do “Bola da Vez”?

Fábio - Escrever é um ato solitário - chavão, máxima, lugar e senso-comum. Mas, para mim, essa é uma meia verdade. Claro que é solitário, é você, o teclado e a tela em branco. Mas a sua ferramenta e meio de expressão é a palavra e aí já não é tão solitário.

Um ruído qualquer, para ser palavra, tem que ter pelo menos dois sujeitos que concordem que aquele ruído representa a si mesmo e uma outra coisa qualquer que lhe escapa ao ser e foi convencionado entre pelo menos esses dois sujeitos, diante disso, cadê a solidão?

Quando escreve, você está mexendo com um material que é de todos, que vem sujo de todos, de todos os tempos e lugares por onde andou. Você está ali misturando ingredientes que já foram manipulados por Gregório de Matos, Machado de Assis, Graciliano Ramos, pela sua filha de 4 anos e pelo porteiro do seu prédio. Cadê a solidão?

Quem escreve está escrevendo para o outro, com os instrumentos que incluem o outro – se ele não quer isso, há a opção de não escrever, só pensar, e até sonhar - sonhos não são ótimas narrativas solitárias? Escrever, para mim, é para e com o outro. Escrever é ato solitário, mas tem que ser solidário também.

No meio do processo de escrita, comecei a sentir falta justamente do outro. Havia o contato dos leitores com o blog e uma troca de comentários sobre as postagens, mas o texto do livro ainda estava muito meu. É importante lembrar que há registros de muitos autores que tiveram suas obras lidas por outros antes da publicação – quase sempre amigos escolhidos e autores também, ou as esposas-coautoras. Acho que todo autor sente que está precisando de outra leitura além da sua própria. O que fiz foi oferecer isso a qualquer um que estivesse interessado. Qualquer pessoa podia pedir e ler um conto – o único compromisso era algum tipo de retorno ( os contos nunca estiveram abertos na internet ), era preciso apenas me escrever um e-mail pedindo o conto pelo nome. Esse convite foi postado no blog, enviado por meio de um mailling de 20 mil nomes e esteve no Boletim do Instituto que dirijo, o Caleidos ( www.caleidos.com.br ).

Recebia os pedidos e enviava o conto. Os retornos foram uma riqueza - há uma boa parcela deles no blog http://livro-bola-da-vez.blogspot.com . Muitas leituras me fizeram olhar os contos sob outros ângulos, ampliaram as possibilidades das personagens e apareceram sugestões, dúvidas, correções importantíssimas para o momento de fechar o texto. Se o leitor pedia outro após o primeiro retorno, recebia. Só me impus duas regras: nunca deixar alguém ler todos, até porque no momento da degustação havia ainda sete por escrever, e nunca defender os contos, aceitar as leituras que chegavam como vou ter que aceitar quando publicados em livro. A grande vantagem foi poder modificar aquilo que o leitor apontava e fazia sentido no contexto geral do livro.


Guilherme/FOLHA - Como se deu exatamente a interação com os frequentadores do “Bola da Vez”? Os feedbacks deles influenciaram de qual forma a formação do “mosaico”?

Fábio - Especificamente em relação ao mosaico, não. Os leitores influenciaram sobre os contos individualmente – até porque eu precisava saber se estavam funcionando como contos – mas não sobre a estrutura do livro. A idéia do mosaico surgiu junto ao primeiro conto lá nos 90, mas a forma desse mosaico veio no processo de criação do livro – os leitores não tiveram acesso a esses momentos. A minha dívida imensa com os leitores diz respeito aos contos que cada um leu e na generosidade de seus retornos me ajudaram a calibrar cada texto.


Guilherme/FOLHA - Que impacto você deseja que o livro tenha nos leitores?

Fáfio - Bem, primeiro eu espero que gostem. Gostem das histórias, das personagens, gostem da estrutura. Realmente espero que tenham prazer na leitura do livro, que se divirtam lendo o tanto que me diverti escrevendo. Foi uma diversão tentar traduzir o trabalho, a elaboração, o rigor e a pesquisa em forma de fruição prazerosa para os leitores.

Tentei entrar no mundo de cada personagem, entender suas motivações, desejos, medos e verdades, tentei construir suas histórias de modo que pudessem ser nossas histórias, impregnando-as de História.

Para mim, a pesquisa foi muito rica, foi um mergulho muito pessoal num pedaço tão particular de São Paulo e uma revisão importante da História recente do Brasil. Não sendo historiador, as pesquisas puderam ser regidas pelo sentido do prazer. Podia variar de um texto que me emocionou profundamente sobre o esforço que foi transmitir por rádio a Copa de 38 para o Brasil ou sair em longas tardes andando e fotografando o Bixiga. Espero que essa emoção e prazer estejam no livro e cheguem aos leitores.