sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Alguns Retornos








Aqui vão alguns retornos que recebi. Se você soubesse o tamanho do carinho que é receber um destes, corria já para mandar o seu. Umas poucas linhas e pronto: já aumentou a carga de felicidade do mundo.


Aí vão os que chegaram
antes do seu:

Estimado companheiro escritor Fábio Brazil, findei ontem a
leitura do "Bola da Vez". Foi um deleite. O livro é ótimo, instigante, rápido, bem organizado e me remeteu aos meus anos 80 e 90. Parabéns! Há momentos de tensão muito bem construídos, além da abordagem de diversos aspectos de nossa contemporaneidade, seja no que se refere ao cotidiano, seja na crítica ao desaparecimento recente de "comunistas", tal como o Xavier.

Manoel Marques da Silva



Escrevo a quente, ainda sob o impacto do bom final. O livro me prendeu muito a atenção no início, dispersei um pouco no meio, voltou a ganhar pique no final. Não é análise científica, pois o cansaço da leitura feita em três noites pode ser o responsável pela falta de concentração.
Mas a história é ótima. O mosaico de personagens compõe um bom retrato do Bixiga. Há capítulos-contos excelentes, que se sustentam em pé sozinhos. Outros são mais complementares, naturalmente. Alguns personagens marcam mais, foram desenhados com o lápis mais calcado no papel. Outros, apenas delineados, quase rascunhos. Como na vida real, aliás.
Embora a proposta seja engenhosa, sinto que às vezes foi uma camisa de força. Há personagens que estão apertados nas seis páginas, outros cabem folgadamente. Talvez uma escrita mais orgânica, menos esquematizada, convivesse melhor com a personalidade de cada um. Nunca saberemos.
Certamente é um dos livros mais paulistanos que já li. Vai estar na mesma prateleira de um Alcântara Machado, de um Marcos Rey. Retratistas da metrópole, observadores de caracteres e comportamentos, conhecedores das calçadas onde transitam seus personagens. Muito melhor que os/as epígonos de Rubem Fonseca que pululam por aí.
E há imagens iluminadas, onde a poesia se infiltra. Em várias páginas, diamantes faíscam. E passagens que ficam na lembrança. O segundo parágrafo de Genésio. O final de Persona. João descrito como um anjo caído.
Dizem que a 6ª. Sinfonia de Beethoven tem vários problemas, do ponto de vista formal. Os entendidos dizem que há instrumentos mal colocados, timbres conflitantes. Mas pra nós, ouvintes, é uma maravilha! A maioria das pessoas prefere a Pastoral à Sétima, considerada formalmente perfeita.
Claro que Bola da Vez não é a Quinta, mas a primeira. Se você insistir na prosa, sugiro escrever um romance sem regras, mais verso livre. Nada de soneto em prosa! Precisamos ler mais Bolaño (que também escreve “policiais” não ortodoxos).
Enfim, admirável primeiro livro. Fiquei com inveja de alguns trechos que gostaria de ter escrito. Criticar é fácil, difícil é construir o edifício. Bela estréia, futuro promissor.

Daniel Brazil



"A chuva deixa o longe mais distante."... Apenas ontem peguei o seu livro e fui somente até a página 51. É que, depois, os deveres me chamaram, fossem eles os familiares, fossem os demais. Não fora assim, eu o teria devorado todinho. Tive insônia, nesta noite, por isso só acordei às sete. E bem que poderia pegar, então, novamente, o Bola da Vez, mas isso não me traria o sono, com certeza, porque eu o teria devorado todinho (e, além disso, quero saborear, de vagarinho, cada palavra dele)... Também, os deveres de hoje me chamavam... Os seus amigos, todos, inclusive, os que já se foram, tal como o nosso Carlos (especialmente), devem estar emocionados com o seu tardio feito (tardio, porque isso deveria ter acontecido muito antes, né?). E eu, vendo o meu filho pródigo, o mesmo menino que conheci aos 19 anos – e já um excelente poeta - transformado num homem maduro, que ainda conserva um GRANDE CORAÇÃO, agora, metamorfoseando o seu maior talento, a poesia, em prosa (ou seria o contrário?), ainda que contando o trágico, a miséria, a amargura e a tristeza. Querido, que Deus o abençoe, ilumine e guarde, em todos os momentos da sua existência, tal como o fez até hoje!
Beijos da amiga de sempre,

Cecília Ortiz



Durante o mês de janeiro me ocupei de algumas leituras e uma delas é digna de ser citada aqui. O livro Bola da Vez, escrito por Fábio Brazil que, além de poeta, dramaturgo, professor de literatura e história da arte, é amante incondicional do Bixiga, bairro paulistano que ele freqüentou durante boa parte da adolescência. Ele mesmo me disse quando o conheci naquela vizinhança, lá no Sabelucha, um café e doceria que fica na 13 de Maio com a Conselheiro Carrão: “o Bixiga nem existe oficialmente, no mapa da cidade isso aqui tudo chama Bela Vista. Mas no coração do pessoal que vive aqui em volta, não tenha dúvida, aqui é o Bixiga”.
Lançado em Novembro de 2009, o “Bola da Vez” é um livro composto por 29 contos, de cinco páginas cada, que contam a saga do policial Faustino, que investiga o assassinato do “cara errado”, João, executado por engano, dias depois da final da Copa de 1994, sem graça e sem gols – como diz o livro. Mas, apesar da linha mestra do tempo do livro estar entre a final da Copa de 1994 e a tradicional Festa da Achiropita (que acontece em Agosto, no Bixiga), as histórias dão saltos que nos levam a passados mais distantes, como a Segunda Guerra Mundial, o Golpe Militar de 64, desastrosos planos econômicos, jogo do bicho e vai atravessando décadas da boemia daquele bairro, onde os personagens dos contos se encontram e influenciam a vida um do outro. O grande barato do livro é perceber que, apesar dos contos serem completamente independentes um do outro, as histórias que eles contam acabam se esbarrando e se influenciando. Assim como são as pessoas no trato diário da vida. Não por menos, todos os contos do livro possuem nomes de pessoas, que são os personagens principais de cada história. E esse entrelaçamento das histórias e as surpresas causadas quando se percebe a famosa equação “causas x conseqüências” funcionando tão na frente do nosso nariz, é que transforma a idéia genial do “Bola da Vez” em um livro apaixonante, daqueles que se lê devagar pra não acabar tão cedo.

Tiago Inforzato