quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Imagem do Mosaico

Ao final do processo de degustação, já descontados os elogios dos amigos – exagerados e generosos, tipo de gente que eu gosto – só me restou uma clareza: os contos funcionam como contos. Não houve um retorno sequer que apontasse a falta de informações anteriores para o entendimento do texto que enviei. Alívio, o mosaico de contos funciona!

Imediatamente me envolvi em outra questão – neuróticos nunca sossegam.



Sim, o mosaico funciona, mas qual a imagem que o mosaico projeta?
Como se organizam as peças individuais?

Sei que no livro terão uma organização linear – uma fila indiana de contos. A graça ali - para o autor e, espero, para o leitor – será o manejo do tempo-ficcional por meio da organização da seqüência. Traduzindo:
a seqüência dos eventos (contos) não obedecerá à seqüência linear do tempo-ficcional em que os eventos teriam acontecido. Saltaremos da noite do crime para a infância do delegado ou para a adolescência do mandante sem aviso prévio.

Mas seria essa a organização ideal?
Restrita a uma única possibilidade escolhida pelo autor?
Certamente que não.

Um livro que foi colaborativo desde seu nascimento, um trabalho que buscou interagir com os leitores em todas as suas etapas desaguar numa única possibilidade não me agrada. Sempre haverá, claro, a liberdade do leitor, que pode escolher a sua seqüência de leitura aleatoriamente tendo o livro na mão. Mas, todos sabemos da pouca possibilidade real disso acontecer, a maioria partirá da página 1 e caminhará uniformemente até a última ( assim espero!)

Aceito isso e tentarei fazer a melhor escolha – aliás, está praticamente feita e é aquela que apresentei na postagem da degustação.
Mas algo resiste, neuróticos nunca sossegam.

Qual a forma que o mosaico projeta ?
E qual outra possibilidade de propor leitura?
Debruçado sobre essas questões, cheguei a duas respostas.
A primeira é a que está abaixo, o mosaico seria uma mandala:

No centro está a vítima (João), ao seu redor o contexto do crime.
Local (Divanilde), autor (Júlio), motivo (Givair),
policiais (Faustino e Paulo), mandante (Fernando),
conseqüência imediata (Deolinda) e enterro (Araçá).

No círculo mais afastado do centro, os núcleos de contextualização daqueles que estão diretamente ligados ao crime.

Sim, é apenas um esquema e poderia até ser diferente. Afinal,
há centenas de interligações mais diretas entre contos distantes na mandala e contos que contextuaizam dois personagens e a mandala não está oferecendo isso. Mas ficou bem bonitinho, não ficou?
Um amigo aconselhou-me a mentir, posar de “garoto esperto” que tinha tudo planejado e sob controle desde o início. Outra amiga levantou a hipótese de que a imagem já existisse no nível inconsciente e que só agora houvesse topicalizado.

Considerando os dois comentários a respeito da mandala imponderáveis.
Passei a considerar seriamente a possibilidade de um dia lançar um CD-ROM ou um site e não um livro.
Um CD-ROM permitiria muito mais liberdade ao leitor – não derrubaria árvores – e seria bem mais fiel ao projeto do livro. Um site (transferência limpa de dados, sem mídia) seria melhor ainda, além de não poluir poderia manter indefinidamente a realção-interação direta com os leitores. Por enquanto amigos, teremos o livro em papel e esse blog.
O que já é muito bom, certo?