quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Olhos do Ofício
Passei algumas tardes chuvosas ou ensolaradas andando pelo Bixiga para produzir o Bola da Vez. Meu objetivo ali era (re)conhecer as ruas, conversar com as pessoas, obter uma percepção maior do lugar e produzir algumas imagens pessoais. Para essa finalidade, sempre estive acompanhado de uma pequena câmera digital no bolso.
As imagens serviram para me alimentar no momento da escrita corrigindo a memória quando se tingia de imaginação. Além disso, como o diário de bordo do livro foi feito em meio digital, as imagens acabaram encontrando seu fim ilustrando as postagens.
Nunca pensei em ser fotógrafo! - como também nunca pensei em trabalhar numa Cia de Dança. E, no entanto, entrei para a Dança por meio da Fotografia. Assim, já me acostumei com os caminhos tortuosos como os do Bixiga no meu riscado profissional.
Gosto de fotografias e de fotografar, mas São Paulo é osso duro.
Como São Paulo é ingrata para quem aprecia fachadas, vistas arquitetônicas e ruas livres. É impossível fotografar uma rua, uma casa, um ornamento sem que um carro se intrometa na sua imagem.
Ao revirar um bairro central a pé, descobri que os carros nos impedem de ver essa cidade. Considerei a necessidade de haver uma multa monstro por estacionar à frente de uma casa histórica. Cobrir com um carro uma bela fachada, uma porta, um casario deveria dar guincho por produzir o feio escondendo o belo.
Carros são feios! São a evolução estética de baratas, besouros e lesmas. E não há rua em São Paulo que não seja uma fila de carros quase andando, ladeada de duas fileiras de carros parados. Eliminar essas toneladas de mau gosto - sempre pretos ou pratas - em uma fotografia é quase impossível.
À custa de muita ginástica, muito corte, muita composição apertada e ângulos improváveis, produzia minhas imagens e a pasta de fotos na HD foi crescendo - uma ou outra pingava nas postagens.
Quando o Editor sugeriu as ilustrações, achei ótimo, mas "com que roupa?" - ilustradores são caros, precisam de tempo e exigiriam de mim um diálogo com uma segunda arte acontecendo dentro do livro, enfim: dinheiro, tempo e conhecimento da área - exatamente o que eu não tenho.
Mas e as fotos? Podemos trabalhar com elas - perguntou e concluiu o editor. Covenceu-me da idéia ao mostrar-me uma ilustração criada a partir de uma foto que lhe mostrei como protótipo da capa ( está na postagem Quando Tudo Muda ).
Foi então preciso rever e dividir todo o material focando os contos-capítulos - as ilustrações estarão nas páginas de abertura de cada conto. O problema dessa divisão e escolha é que o material não foi priduzido com essa finalidade. Qual foto é para João? Qual para Faustino? Qual fala de Lívia? Qual mostra Sônia?
Os contos-personagens foram construídos em palavras, como fazê-los dialogar com imagens? Mesmo assim, aceitei a empreitada. Selecionei aquelas de que mais gostava como fotografia e passei a dividi-las pensando nos contos. Ofereci ao editor, na maioria dos casos, mais que uma possibilidade para cada conto - confiei na sua escolha.
Mas também não resisti em oferecer ao leitor - sempre convidado a entrar na oficina e opinar - a chance de conhecê-las. Assim, abaixo vão os links para dois slides-show das fotos, valem como um convite a um passeio. Divirtam-se, é só clicar.
Ilustração Bola da Vez
Bixiga, outras