Não nasci no Bixiga, mas lá, nunca me sinto estrangeiro.
Nasci na Aclimação, perto do Parque e do riozinho que hoje está escondido debaixo de uma avenida - no final da Machado de Assis e no meio dos anos 60.
O Bixiga foi uma descoberta da adolescência. Vagando por ali nas tardes vazias após as manhãs de Colégio Equipe - era ao lado da Vila Itororó - ou notivagando por aquelas ruas cheias de bares cheios de pessoas tão diferentes e interessantes para o menino que iniciava por ali seu abandono do berço familiar. Anos 80.
Assim, para São Paulo,
nasci no Bixiga, entre atores, namoradas, universitários, donos de bar, militantes, bêbados, gente do samba e do rock, garçons, gays, mulheres, malandros e outros meninos que como eu se descobriam por ali. Agradeço a todos eles por esse tanto de mim que não compartilho com tias e irmãos. São uma outra espécie de família, a dos amigos, a que a gente se dá. Se nos vemos até hoje ou se nos vimos por uma noite, pouco importa. Há famílias estranhas.
Como não sou nem tão velho, nem tão interassante para uma biografia, resolvi ambientar o romance policial Bola da Vez no Bixiga - uma forma de redescobri-lo por meio da pesquisa e revivê-lo por meio da escrita -
e enfim, agradecer a esse segundo local de nascimento.