segunda-feira, 27 de julho de 2009

Estrutura em Mosaico















Elaine - amiga, leitora e sumida - garante que todos os romances são assim - estruturas em mosaico - nós é que criamos as "figuras contínuas" - concordo em parte. Ela estuda Lacan e eu não falo Latim.

De toda forma, o Bola da Vez certamente vai solicitar do leitor esse "defeito ordenador" do nosso cérebro: montar uma figura a partir de pontos independentes.

Falando da estrutura do livro a outro amigo, expliquei da seguinte forma: "imagine um filme de cinema, daqueles de rolo. Imagine que alguém cortou alguns fotogramas que achou significativos e arrumou-os de modo que a seqüência de fotos ainda pode revelar o enredo. Assim será o livro". Cada um dos 29 contos previstos é independente dos demais e auto-suficiente em termos de ser um conto com a sua estrutura e graça própria. É no conjunto que se revela o romance policial.

À essa idéia relativamente simples, juntei outras só para me complicar depois. Vamos a elas:

- Cada conto gira em torno de uma personagem, dela recebe o nome e deve bastar em apresentá-la, viver a ação daquele conto e contribuir para o enredo da figura de fundo - o romance construído por contos.

- Os contos têm todos o mesmo tamanho. Rigorosamente 5 páginas, nem uma linha a mais, nenhuma a menos.

- As transições de tempo e espaço de um conto para outro são marcadas no corpo do texto, no enredo do conto. Fica para o leitor as descobertas de época, local, contexto e relação do conto com o romance.

- Todos os contos devem conter informações históricas sobre São Paulo, o Bixiga, o contexto político brasileiro do momento e principalmente mostrar como aquele fato, aquele contexto histórico, atua na vida da personagem de que trata o conto.

Esses problemas adicionais que me impus em verdade tornaram-se margens seguras para desenvolver o trabalho, ajudaram muito mais do que atrapalharam, até porque nasceram do próprio processo e não anterior a ele. A comentar, somente as tais 5 páginas:

quando ensinava Literatura no Ensino Médio, no milênio passado, em conversas informais os alunos me ensinaram o conceito de "literatice": mistura de literatura com chatice; é quando - diziam - a gente anda, anda, anda e nunca chega na quitanda. Tio Fábio - assim me chamavam - se depois de cinco páginas o sujeito não conseguiu me levar a lugar nenhum, dou uma bica no livro dele! - No fundo, sempre achei isso justo.

Bem, manter os contos "chegando na quitanda" dentro do limite das 5 páginas, pode, ao menos, por esse motivo, evitar uma bica no meu livro.